segunda-feira, 12 de março de 2012

Entrevista: Marcelo Vido, gerente de negócios e marketing do Minas TC

Conforme prometido, segue a conversa que o blog teve com Marcelo Vido, gerente de negócios e marketing do Minas TC.

Ele fala sobre a necessidade da separação da administração do futebol e esportes olímpicos, sobre como funciona a estrutura financeira do clube mineiro, a Lei de Incentivo ao Esporte e chama atenção para a falta de visibilidade dos clubes na natação. O calendário de competições com a participação dos clubes é mínimo, só existem dois campeonatos brasileiros por ano - Maria Lenk e José Finkel, muito pouco para atrair patrocinadores, que por isso, preferem investir diretamente na imagem dos atletas famosos.

E afirma: "Não há a contratação de atletas sem o patrocinador".

Confira:


Geralmente os clubes de futebol têm seu departamento de marketing exclusivamente voltado para o futebol. O Corinthians quer formar uma equipe de marketing exclusivamente para desenvolver os esportes olímpicos. O caminho é esse mesmo?

Na minha opinião é necessário a criação de 2 unidades de negócios, futebol e demais esportes olímpicos, com objetivos específicos e metas para as duas áreas. Não sei se precisa de 2 equipes de marketing, mas com toda certeza essas unidades de negócios, necessariamente, tem que estar alinhadas com o Mapa Estratégico ou Planejamento Estratégico da instituição. Tudo tem que estar integrado e uma visão sistêmica é importante para o sucesso do programa.


O Minas prova que é possível sim bancar os esportes olímpicos no país do futebol?

No Minas Tênis há 8 modalidades esportivas de competição (voleibol masculino e feminino, basquete masculino, futsal masculino, natação, judô, tênis, ginástica artística e trampolim). As modalidades são integradas desde o curso básico (crianças de 3 a 9 anos), escolas de esportes e equipes de competição (categorias da base). Toda a infra-estrutura dessas modalidades são custeadas pelo clube ou melhor esses investimentos são do clube. Para um melhor entendimento, em relação as equipes profissionais, todos os custos de viagem, hospedagem, alimentação, taxas de federação e confederação, comissão técnica, médico, fisiológico, psicólogo, NICE (Núcleo de Integração do Esporte) são bancados pelo clube. Os patrocínios são para pagamento dos atletas profissionais. Essa é a razão do clube nunca deixar de competir as ligas profissionais ou campeonatos brasileiros das respectivas modalidades. Quando, por algum motivo, não há o patrocínio jogamos com uma mais jovem formada no clube. Afinal a nossa grande missão é formar e desenvolver atletas contribuindo para a formação plena da cidadania.


Não seria a fórmula ideal ou o sonho de todo departamento de marketing unir as estrelas do futebol - Ronaldinho e Love, com as estrelas olímpicas do Clube - Marcelinho, Cielo, Fabiana Beltrame, Jade Barbosa, Daniele e Diego Hypólito?

Como ação de marketing, acredito que é muito interessante e tem um apelo muito grande na mídia. Mas no esporte, principalmente no futebol, existe um fator muito forte que é a paixão dos dirigentes. Nesse caso, a paixão pelo futebol é muito maior que qualquer outra modalidade no clube. Mais um motivo para que as unidades de negócios sejam independentes, mas integradas.


Como funciona no Minas. Como funciona a estrutura? Tem um orçamento próprio? Existe uma divisão da equipe de marketing por esportes?

Como respondi na questão 2, temos no clube 73 mil associados que gostam do lazer, educação, cultura e esporte. A nossa gerência (negócios e marketing) trabalha para o clube e não para um departamento. Entretanto, o esporte tem sua unidade de negócios própria com as metas para serem alcançadas. Mas também entendemos que o maior ativo (isso mesmo ativo) do clube é os associados. Não são as piscinas, quadras, edifícios ou atletas.
O clube possui orçamento para todas as áreas do clube. No esporte, a infra-estrutura entra no orçamento corrente do clube e a contratação dos atletas profissionais com o orçamento vindo dos patrocinadores. Não há a contratação de atletas sem o patrocinador.


O Flamengo encontra grandes dificuldades para conseguir patrocínio pra natação mesmo tendo em seus quadros um campeão olímpico e bicampeão mundial. O mercado olímpico não se aqueceu mesmo com a proximidade dos jogos olímpicos do Rio ou o problema é outro, já que o Minas tem o patrocínio da FIAT até 2016?

Apesar de a natação viver um momento muito interessante e promissor para os próximos anos, o produto natação precisa ser mais atrativo, principalmente o calendário de competições com a participação dos clubes. Como exemplo, o Grand Prix das Universidades Americanas. Temos que entender porque os patrocinadores não aportam recursos nos clubes formadores e que competem nessas modalidades. Porque preferem os atletas e não os clubes? No caso da Fiat, o projeto Rio 2016 tem suas metas de participação e resultados, um linguagem muito coorporativa incluindo meta de vendas de carros da marca para os associados do clube.


6 - Márcio Braga uma vez disse: “No Flamengo, o futebol sempre foi superavitário e sempre sustentou os demais esportes. Esse modelo morreu.” Tudo leva a um modelo profissional, onde de um lado ficará o futebol profissional e do outro o clube social?

No caso do Flamengo, vejo 3 grandes áreas de negócios;

* Clube Social
* Futebol profissional
* Modalidades esportivas

No caso do futebol, existem os recursos oriundos de 3 áreas - bilheteria, comercial (patrocínios, licenciamentos e merchandising) e direito de tv - não considerando a venda de jogadores, mesmo porque, na minha visão, é um ativo que o clube possui.

Nas modalidades esportivas, a única receita que podemos contar, exceto raras exceções, é o patrocínio. Mas um motivo que tenhamos um produto muito bem desenvolvido e atrativo. O NBB busca esse modelo mais moderno e profissional.



O Minas conseguiu várias captações via Lei de Incentivo ao Esporte. Existe dentro do Minas uma equipe especializada para tratar apenas desses projetos? Como funciona?

Sim, existe uma equipe especializada na captação do incentivo. Entretanto, a gerencia de esportes é a responsável pela elaboração e aprovação dos projetos, a gerência financeira (contábil) é a responsável por toda a prestação de contas junto aos orgãos oficiais e a minha gerência tem a responsabilidade da divulgação e aplicação das marcas dos incentivadores (deixo claro que essas empresas são incentivadoras e não patrocinadoras).


Qual a divisão da receita do Minas? Qual a porcentagem da receita que vem dos sócios e a porcentagem que vem dos patrocinadores? Como é feita a administração da verba para investimentos no clube social e para os esportes do clube?

O clube possui um orçamento em torno de 100 milhões por ano, sendo que 15 milhões (sem contar os recursos das leis de incentivo) foi a meta da nossa gerência alcançada em 2011 para os patrocínios em esportes, cultura, lazer e educação. A maior parte desses 15 milhões é para as modalidades esportivas. Quanto aos detalhes do orçamento do clube, preciso de mais informações da gerência financeira.

Um comentário:

Renato Croce disse...

Certamente verei com calma logo mais! E já adiantando... Parabéns pela entrevista!